Bastam-me as cinco pontas de uma estrela
E a cor dum navio em movimento
E como ave, ficar parada a vê-la
E como flor, qualquer odor no vento.
Basta-me a lua ter aqui deixado
Um luminoso fio de cabelo
Para levar o céu todo enrolado
Na discreta ambição do meu novelo.
Só há espigas a crescer comigo
Numa seara para passear a pé
Esta distância achada pelo trigo
Que me dá só o pão daquilo que é.
Deixem ao dia a cama de um domingo
Para deitar um lírio que lhe sobre.
E a tarde cor-de-rosa de um flamingo
Seja o tecto da casa que me cobre
Baste o que o tempo traz na sua anilha
Como uma rosa traz Abril no seio.
E que o mar dê o fruto duma ilha
Onde o amor por fim tenha recreio.
Natália Correia, Passaporte (1958)
domingo, 30 de janeiro de 2011
PALAVRAS DE OUTROS
POEMA DESTINADO A HAVER DOMINGO
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Esta Natália Correia não é facil de ler... Mas o poema é bonito. Tem imagens muito bonitas.
ResponderEliminarConheci a Natália pelos seus poemas e...Pela cálebre boquilha. Quem não se lembra?
ResponderEliminarOnde se lê «cálebre», deve ler-se "célebre"
ResponderEliminarPorque parece gostar do mar, do rio,do espaço,da poesia uma quadra,para si da Natália
ResponderEliminarCorreia.
"Nuvens correndo num rio
Quem sabe onde vão parar?
Fantasmas do meu navio
Não corras vai devagar..."
Espero que goste
Sonhos içados ao vento
ResponderEliminarQuerem estrelas varejar!
Velas do meu pensamento
Aonde me quereis levar?
Não corras, ó meu navio
Navega mais devagar,
Que nuvens correndo em rio,
Quem sabe onde vão parar?
Que este destino em que venho
É uma troça tão triste;
Um navio que não tenho
Num rio que não existe.
E a última quadra, a chamada cruel à realidade?
Que comentário lhe merece?
Mando-lhe uma abraço, porque uma abraço é o que de melhor se pode dar a quem descobre "que o destino em que vem é uma troca bem triste"