Levantei-me, como habitualmente, cerca da oito da manhã. Pequeno-almoço, os cuidados habituais e, como a manhã era de Sol depois de consultado o e-mail, dispus-me a caminhar.
Fui de carro até ao Estádio e lá o deixei, mudo e quedo, enquanto me passeei por outra freguesia. O Sol era convidativo mas o vento arrepiava-me as bochechas e acariciava-me o cabelo. Nada de mais. Eu gosto de sentir o vento fresco na face. Ajuda-me a pensar. Daí a ideia peregrina “não vou cumprimentar ninguém”. Habitualmente, tomo a iniciativa de desejar “bom dia” a todas as pessoas com quem me cruzo, quer as conheça ou não, no trajecto que percorro, para trás e para a frente, desde a Ponte Europa até à Rotunda do Sinaleiro. Hoje, dispus-me a ver quantos “bons dias” ganharia se não tomasse a iniciativa. Não temos fama de ser simpáticos e hospitaleiros?
A experiência não tem qualquer rigor científico, não passou de uma brincadeira com que me apeteceu entreter a caminhada. Nem sequer contei as pessoas que se cruzaram comigo. Posso contudo garantir que se cruzaram muitas, de diferentes idades, no período que decorreu entre as dez horas e trinta da manhã e as doze, umas a correr, outras a andar, outras de bicicleta e somente dez me desejaram “bom dia”. Se descontar os “bons dias” de três pessoas das minhas relações, fico reduzida a sete. Houve “bons dias” frouxos, sorridentes e um particularmente vigoroso, o do senhor que manobrava a cadeira de rodas em que se deslocava e eu pensei que a força daquele “bom dia” significava a determinação com que aquele homem, ainda novo, enfrentava a vida.
Quando me passeio em S. Martinho do Porto, pela praia quase deserta e encontro estrangeiros, são eles os primeiros a cumprimentar-me com um sorriso aberto. Como é que nesta cidade onde quase nasci e onde toda a gente se conhece de vista, só consegui obter uma média de cinco “bons-dias” por hora?
Há muitos anos, no Liceu Nacional de Leiria, o Dr. Carlos Silva, um padre, já falecido, mas sobejamente conhecido pelos seus dotes vocais, deu-me aulas de Religião e Moral e entre outras coisas ensinou-me uma canção que diria mais ou menos “Alô, Bom dia, oh como vai você? Um olhar bem amigo, um claro sorriso, um aperto de mão. E a gente sem saber como e porquê se sente feliz e sai a cantar alegre canção… Bom-dia nada custa ao nosso coração. É bom fazer feliz o nosso irmão”.
Que pena tenho de não saber cantar!
Lamento dizê-lo mas, como povo, ainda somos muito mal-educados. Quando vim (contrariada) para Leiria, tive de me habituar a uma, quanto a mim, péssima característica das pessoas desta cidade - a de não "conhecerem" as pessoas. O que me custava (e custa!) por exemplo, pessoas "muito bem" cá da terra que no Partido falavam muito bem, com toda a "camaradagem" e, se possível, no dia seguinte, passavam por mim ombro a ombro e, simplesmente, me ignoravam...
ResponderEliminarNão entendo; nunca entendi. Provincianismo? Provavelmente.
Há quem não cante e encante… não é seguramente o meu caso.
ResponderEliminarTambém fui aluno do padre Carlos Silva, num tempo em que as aulas de Religião e Moral já eram facultativas. Recordo dele o ar alegre e contagiante e sobretudo o seu sorriso musical.
Quanto às pessoas não lhe terem dado os “bons dias”, como leiriense que sou, quero acreditar que estavam a fazer o mesmo jogo que a Isabel.
:)
Olá, Rui. Gostei desta.
ResponderEliminarEmbora levasse óculos escuros, eu olhava directamente para as pessoas, não dirigia o olhar em frente fingindo que não as via, por isso concordo consigo, quem não disse "bom dia" andava tal como eu a brincar ao "cala e segue" ou tinha deixado a língua em casa. Parabéns. O meu caro amigo ainda é mais optimista do que eu. :)
Minha querida "Carol", mas afinal de que gostas tu? As pessoas estavam todas a brincar como eu, mas os patinhos estavam na margem com os pombos a comer (não sei o quê) e disseram todos quá quá quá quá quá, que em linguagem de pato significa "olá bom dia, como estás?" E eu respondi ao cumprimento e no fim até disse "bom apetite" como a minha mãezinha me ensinou.
ResponderEliminarQuem te manda a ti ser professora de Inglês? E ainda por cima ter vivido em Sintra? Você é uma traidora que passa a vida a dizer que não gosta de viver na Freguesia dos Marrazes. O que pretende a "madama" ir morar para outra freguesia? Nem penses que eu te deixava ir dar o voto a outra! Havia logo uma revolução na Sismaria.
O joão vive algures no Alentejo. Tem muitos amigos e familiares em Leiria.
ResponderEliminarTem om blog, intitulado "Espaço do João". Aguarda a visita e, ainda oferece laranjas. Está farto do laranjal.