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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A PROMESSA

Sempre gostei de escrever. Na adolescência e na juventude trocava cartas com inúmeros amigos de que não só pedi o Norte como todos os outros pontos cardeais. Passei ainda pela fase do conto e da poesia, sem ofensa para os dois géneros literários.

Alinhavar a introdução era o mais difícil, mas a partir daquelas duas ou três linhas o texto fluía como se por algum motivo estivesse contido sob pressão na grafite do lápis. Gostava de escrever com lápis bem afiados que não fossem muito grandes. E tinha sempre vários na bolsa que levava para as aulas e alinhados no tampo da minha secretária.

O estudo da Filosofia, pela mão da Dra. H.C., que sabiamente utilizava a maiêutica, para nos ensinar a pensar, dilatou e coloriu as minhas ideias, já de si tão férteis.

Vertia para o papel a amizade, os sonhos e as brincadeiras próprias da idade. “Só escrevem parvoíces” concluíram um dia, a minha mãe e a D. Maria Rosa, que havia sido minha professora do Ensino Primário, depois de ambas terem lido as cartas que eu e o filho, a estudar nos Pupilos do Exército, íamos trocando e ainda se riram na minha cara citando algumas das frases lidas. Os tempos eram outros, tudo se controlava e nada havia a esconder. E a D. Maria Rosa e a minha mãe riam-se facilmente da vida.

Depois cresci, casei e o quotidiano vestiu roupagens novas, sem tempo para devaneios solitários, mas quando os afectos não corresponderam às expectativas, eu voltei ao papel e ao lápis escrevendo a mim própria, cartas intermináveis onde vertia toda a mágoa do momento. Depois, fechada a carta, escondia-a numa gaveta qualquer e esquecia-me dela, até mais tarde a encontrar e ler sentindo-me de novo tão infeliz como quando a tinha escrito.

“Isto é masoquismo” pensei um dia e prometi que nunca mais escreveria sobre coisas tristes. Escreveria, isso sim, sobre as coisas simples e agradáveis da vida pois só assim, ao fim de algum tempo, descobriria o que era a felicidade.

Hoje tive um dia menos bom e sozinha, debruçada sobre o meu umbigo, apetecia-me escrever sobre isso, mas não posso quebrar a promessa.

É preciso coragem para aceitar as circunstâncias da vida, sem abrir mão dos sonhos.

Amanhã é um novo dia.

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