Mais uma vez aconteceu passar do Ano Velho para o Ano Novo entre pessoas que, não sendo propriamente minhas amigas, me acolheram como se fosse uma velha conhecida.
A paisagem era de uma lonjura fabulosa, o calor humano ultrapassava o limite do imaginável e os assuntos sobre que se dissertou, para além de interessantes foram muito diversificados.
O.A.A.P. um dos cavalheiros presentes, começou por obsequiar todas as senhoras com um botão de rosa, oferecendo depois, a todos os presentes, o poema que a seguir transcrevo:
O Juramento do Árabe
Baçús, mulher de Ali, pastora de camelas,
Viu de noite, ao fulgor das rútilas estrelas,....
Wail, chefe minaz de bárbara pujança,..............[minaz = ameaçador]
Matar-lhe um animal. Baçús jurou vingança;
Corre, célere vós, entra na tenda e conta
A um hóspede de Ali a grave e inulta afronta....[inulta = impune]
“Baçús, disse tranquilo o hóspede gentil,
Vingar-te-ei com meu braço, eu matarei Wail.”
Disse e cumpriu.
Foi esta a causa verdadeira
Da guerra pertinaz, horrível, carniceira
Que as tribos dividiu. Na luta fraticida
Omar, filho de Amrú, perdera o alento e a vida.
Amrú que lanças mil aos rudes prélios leva,..........[prélios = combates]
E que em sangue inimigo, irado, os ódios ceva,..[ceva = alimenta, faz crescer]
Incansável procura, e é sempre embalde, o vil...[embalde = em vão]
Matador do seu filho, o tredo Muhalhil................[tredo = falso]
Uma noite, na tenda, a um moço prisioneiro,
Recém colhido em campo, o indómito guerreiro
Falou severo assim:
“Escravo, atende e escuta:
Aponta-me a região, o monte, o plaino, a gruta,
Em que vive o traidor Muhalhil, diz a verdade;
Dá-me que o alcance vivo, e é a tua liberdade!”
E o moço perguntou:
“É por Alá que o juras?”
- Juro, o chefe tornou –
“Sou o homem que procuras!
Muhalhil é o meu nome, eu fui que espedacei
A lança de teu filho, e aos pés o subjuguei!”
E intrépido fitava o atónito inimigo.
Amrú volveu: - “És livre, Alá seja contigo!”
Significados extraídos do antigo Diccionário enciclopédico luso-brasileiro Lello Universal coordenado por João Grave e Coelho Netto
(copiado, para maior comodidade minha, que assim não tive de o bater tecla a tecla, do blog Crónicas Portuguesas – tal e qual como Ricardo Esteves o publicou em 9-4-2008)
A mim, apreciadora incondicional de solos de violino, ofereceu ainda, autorizando-me a partilhá-lo, o poema de sua autoria, que tomo a liberdade de divulgar:
Só quando tiver sido dita a última mentira,
Só quando tiver sido representada a última hipocrisia,
Só quando tiver sido terminada a última falsidade,
Só quando tiver sido alcançada a última nobreza,
Só então,
Será possível viver
A última nota,
Da última corda,
Do último violino…
Da última melodia.
Que aconteça o milagre da multiplicação, não dos pães, mas dos homens como O. A.A.P., porque as senhoras agradecem a gentileza.
A todos os presentes o meu agradecimento pela simpatia que me dispensaram.
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